quarta-feira, 14 de março de 2012

O PODER PARALELO


Há alguns meses atrás meu filho Eduardo, pedalando uma bicicleta colidiu-se contra uma moto, pilotado por uma jovem sem capacete e sem habilitação, no condomínio onde moramos. A menina logo decretou que meu filho estava errado e que deveria pagar o concerto da moto. Deu seu telefone e pegou o número do celular de Eduardo, avisando que iria a uma oficina fazer o orçamento e que no dia seguinte viria buscar o dinheiro. Mais tarde ela ligou para o garoto e disse que o valor orçado era de cento e oitenta reais. No horário combinado pedi ao chefe da segurança do condomínio que estivesse presente. Tentei explicar à menina que sempre que uma moto colide com uma bicicleta a polícia lavra ocorrência como “atropelamento”, pois para dirigir uma moto era necessária habilitação e para pedalar uma bicicleta bastava ter equilíbrio. E que no caso de atropelamento, ela poderia estar corretíssima, porém neste caso ela ficaria com o prejuízo desde que não entrássemos em acordo. Ela olhou para os meus olhou e disse que ela estava certa, que meu filho estava na contramão. Aleguei que ela estava sem habilitação e sem capacete. A jovem, disse que isso não tinha importância. Falou de uma forma tão natural e com tanta convicção que parecia que ela mesma acreditava no que dizia. Ela foi embora dizendo que ela iria nos denunciar no Morro de São Jorge, onde morava. Que eu pagaria de uma forma ou de outra.
            O chefe da segurança do condomínio me procurou me aconselhando pagar o valor pedido em troco de tranqüilidade. Liguei e logo vieram dois rapazes, que sob protesto, entreguei o dinheiro. Os rapazes cumprimentaram o chefe na segurança e foram embora.
            “Estes dois rapazes trabalham para o tráfico. Temos um acordo de cavalheiros para eles não entraram aqui. Mas eu os conheço bem!”
            Pude sentir o que já sabia há muito tempo. Nos morros do Rio de Janeiro existe um poder paralelo, com leis próprias, além de costumes, ética e moralidade peculiares.
            Olha para “minha própria sociedade” e vejo muita exploração, corrupção, ladroagem por parte das autoridades. Depois de refletir algum tempo descobri que não tenho argumentos para convencer à jovem que o sistema legal brasileiro instituído é o verdadeiro e que a lei da bandidagem do tráfico de drogas é o errado.

“No morro de São Jorge todos andam de moto sem habilitação e sem capacete.”

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