terça-feira, 28 de março de 2006

ESQUECIMENTO

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Ah!
Se eu me lembrasse como se chora,
Para aliviar a incompreensão
Daqueles que me foram tão gratos,
Mas não souberam compreender
Que um homem nem sempre é forte
Para olvidar seus prantos!

PRIMEIRA FLORADA

Um arbusto chega à puberdade.
Uma brisa suave acaricia seus ramos frágeis.
Não mais importa:
Um fogo enfeitiçado já corre na seiva,
clamando amor como uma enfemidade!
Despe-se das folhas, mostrando-se nua:
galhos tenros, ramos verdes, cheirando à virgindade.
E... Abrindo-se ao doce pecado de alimentar uma criança
os primeiros botões explodem, polinizando-se de prazer!

terça-feira, 21 de março de 2006

AMAR É ...


O amor é como casca de banana:
Quanto mais se pisa, mais se escorrega.

O amor é como palito de fósforo:
Quando se esfrega, pega fogo.

O amor é como a coruja:
Dorme de dia, pia á noite.

O Amor é como uma gaveta:
Mesmo sabendo é bom ver o que tem dentro.

O amor é uma chaleira d’água:
Põe-se fogo em baixo, que chia em cima.

O amor é um quarto fechado:
Só é bom quando se tem a chave.

O amor é uma árvore alta:
Para se colhe frutos tem que... subir
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A ROSA E O CACTO


A Rosa não vai à praia...
Pois a areia fere sua delicada face.
A Rosa Não conhece o Mar...
O sal envenena suas folhas verdes.
A Rosa não conhece o Cacto
Que floresce nas areias salobras da restinga

Ah! Se a Rosa um dia fosse à praia
E olhasse de perto o Cacto em flor!
Morreria de inveja dos espinhos...
Murcharia suas flores, indignada.
Ferida e insultada ante ao belo.
Nunca mais voltaria à praia...

segunda-feira, 20 de março de 2006

NA TRILHA DE UM MUNDO SEM CRIANÇAS



São seis bilhões e meio de gente nesta terra de Cristo, Ogum, Maomé, Moisés, Buda, Confúcio e outros. Parece que a curva da explosão demográfica está cada vez mais próxima de seu ponto de inflexão, e logo a população da terra se estabilizará (não sou neomalthusiano). Porém a perspectiva de vida da população mundial cresce de forma quase exponencial. Não demora muito o mundo será formado, basicamente, por velhos, com pouquíssimas crianças. Logo, logo, em um mundo onde o sexo será livre, será um crime mortal fazer e gerar um bebê! Que será do mundo sem o sorriso de um neném? Sem o coquetismo de uma menina? Sem as macaquices dos garotos? Como conceber um paraíso sem anjos? Se a humanidade deixasse o clima de contínua emulação ente seus interantes e passasse a agir em forma de solidariedade e cooperação, em harmonia com a natureza, caberia muito mais gente neste planeta Terra. Daria para produzir mais algumas “pestinhas”, até que colonizássemos outros planetas. Porém o capitalismo não combina, por definição, com solidariedade e cooperação. Brevemente um dos dois vai acabar, ou o capitalismo ou a criança, e conseqüentemente a humanidade, levando consigo os dois. Somente o socialismo pode resolver esta intrincada equação. Que vivam as crianças! Literalmente.

quinta-feira, 16 de março de 2006

A CHEGADA DO NENÉM DA SÍLVIA

Chegou à pé, naturalmente.
Por isto demorou tanto.

Alimentava-se de brisa,
Bebia os raios de sol,
Caminhando passo a passo,
Sem muita pressa:
Apreciava o vôo do beija-flor,
Banhava-se na cahoeira,
Cheirava uma flor-do-mato.
De onde ela veio, ninguém sabe.
Do Oriente, talvez. Quem sabe, não?
Esperávamos sua chegada,
Com enorme ansiedade.
Já no auge da impaciência,
Eis que surge Marcelle!

quarta-feira, 15 de março de 2006

O CÃO



Deixa-me em paz, oh cão!
Não vês que tu me impedes
De escrever belos versos de amor,
Tão puros como o primeiro amor!

Venha compartilhar comigo toda a solidão,
Como o melhor amigo (embora desconhecido).
Tu estás só, oh cão!
Te compreendo, e por isso te acaricio.

Deixe-me em paz, oh cão!
Que culpa tenho se a cadela te deixou.
Passa daqui, oh cão!

Que estou sofrendo este mesmo mal de amor!

terça-feira, 7 de março de 2006

PEIXE DE MIRACEMA

(Uma epompéia rural)

Comprei uma fazenda na Estrada do Cafundó perto de uma vila que o povo chama de “Engenho”, mas o padre me disse que tinha mudado de nome para “Comunidade”. Era uma fazenda de leite, mas latrocínio não dá dinheiro. Vendi a vacada. A estrada da fazenda é muito lamurienta quando chove e pueril na seca. Pedi ao putrefeito para pichar a estrada. Não adiantava só cascaralhar, como sempre faz.
Construí a casa com uma afundação boa. Com doze calúnias. Em todas as janelas botamos safadas, porque minha mulher gosta de safadas. No tétano da sala penduramos um ilustre de cristal de moranga, o piso é de tábua escorrida – madeira de leite. A tipografia do terreno permitiu que fosse construída uma sarna embaixo, ao lado da garagem. A Casa tem quatro suíta com “close up”.
Nas minhas terras tem um morro, que dá para ver uma devassidão bem grande. Pretendo construir um almirante.
Queria criar peixe. Procurei um piscicólogo amigo meu. Tinha idéia de criar pracu, porque pracu é muito gostoso. Então ele me disse que pracu é peixe de miracema e que teria que comprar os avelinos todos os anos. Comprei cem mil avelinos de escarpa. Avelino você sabe: é a lava do peixe. Os peixes são racionados todos os dias pela manhã e de tarde. Os estanques são bem grande, escafunchada com restocravadeira de largata.

ZECA GOMES