quinta-feira, 22 de novembro de 2007

INGÊNUO E SEM MALDADE

...............Fui chamado de “ingênuo” de “coração muito bom e sem maldade” porque desconheço os subterrâneos do trafico drogas.
...............Eu não assisti a “Tropa de Elite”. Talvez nem venha a assistir. Mas ouvi comentários sobre uma cena em que um policial do Bope responsabiliza o usuário de droga de classe média por todo o estado de violência em que nos encontramos. Tenho um conhecido que pensa que se reprimirmos apenas os usuários e deixássemos os traficantes de lado, seria possível controlar a violência, o tráfico de drogas e de armas. Não chego a concordar, mas acho que toda a “cadeia produtiva”, desde o plantio até o consumo final deve ser abordada. O tráfico de droga, como qualquer comércio, segue as leis do mercado: Quanto maior a procura maior o preço. Quanto maior o preço maior estímulo à produção e à oferta. A quantidade de mercadoria oferecida deverá aumentar até o preço cair a ponto de ser igual ao valor da mercadoria (+ - custo de produção). Se não houver usuário não haverá oferta de droga. Os traficantes de drogas teriam que trocar de ramo. Os traficantes de armas também não teriam a quem vender sua mercadoria, teriam que mudar de atividade, ou buscar novas clientelas.
.................Reprimir o usuário de forma eficiente sairia mais caro e seria mais complexo que reprimir os traficantes. Porém se poderia fazer uma campanha maciça contra o uso de drogas. Mostrar claramente que quem usa droga ilegal contribui diretamente com a violência. Provar que quando um traficante mata alguém o usuário é co-responsável pelo assassinato. Porque não se faz uma campanha neste estilo?
.................Tente entrar com uma bombinha tipo “cabeça-de-nego” em qualquer aeroporto americano. Simplesmente você vai preso. Os EUA não produzem cocaína, nem heroína e nem crack. Maconha, muito pouca. No entanto eles são os maiores consumidores do mundo. Como é que entra esta droga em território americano se nunca entrou uma bomba atômica soviética? A resposta é muito simples: Os verdadeiros donos da droga são sócios no comando da nação mais poderosa do mundo. Assim como os donos das fábricas de armas usadas no tráfico são sócios dos traficantes de armas e drogas. Ninguém consegue fazer uma campanha séria contendo propaganda contra uma grande multinacional. ISTO FAZ PARTE DO CAPITALISMO E DEVE MORRER COM ELE!

terça-feira, 6 de novembro de 2007

O GRANDE TERREMOTO

..........Há cinqüenta mil anos vivia uma tribo no coração da África. Já fazia dez gerações que haviam adotado o sedentarismo: abundava caça nas savanas, peixes se pegava com as mãos no grande rio, que jamais secava. As fruteiras nativas produziam o ano todo, sem distinguir estações. Para que migrar? Afinal tudo era dádiva de um grande Deus, que habitava não muito longe e protegia a tribo.
...........O grande Deus era na realidade uma formação rochosa com mais de vinte metros de altura, que lembrava um homem ajoelhado. Porém a proteção não era gratuita: a cada estação um jovem e uma donzela eram sacrificados. Quando alguma coisa desagradava o grande Deus o sangue de outros jovens era derramado.
...........Apenas o feiticeiro da tribo conversava com o grande Deus. Toda vez que acontecia uma desgraça, uma epidemia ou antes de participarem de uma pendenga com tribos vizinhas, o feiticeiro bebericava um chá de algumas ervas acendia uma fogueira com plantas aromáticas e batia um papo com o grande Deus.
............Durante o solstício de verão a tribo se reunia aos pés do grande Deus para uma grande festa em seu louvor. Nesta hora o grande Deus revelava os acontecimentos das próximas treze luas. As vaticinações geralmente eram bastante enigmáticas, dando margem a várias interpretações, porém naquele dia o grande Deus foi bastante claro: “NA SÉTIMA LUA HAVERÁ UM GRANDE TERREMOTO. NÃO SOBRARÁ PEDRA SOBRE PEDRA!”
.............Durante a sétima lua todos estavam preparados para o fim do mundo. Durante a noite a tribo se reunia, entoava cânticos e implorava clemência ao grande Deus. O feiticeiro, embora sem esperanças, ofereceu ao grande Deus seis jovens e seis donzelas, caso o terremoto poupasse a tribo. Mas não houve jeito: no dia de lua cheia um grande terremoto se abateu sobre a região. Todos procuram se abrigar da melhor forma possível. Na manhã seguinte os sobreviventes se reuniram na grande praça da aldeia. Foi um grande estrago. Teriam que reconstruir quase todas as palhoças. Porém , como por milagre, ninguém havia morrido.
............O feiticeiro da tribo convocou todos os moradores para uma grande marcha até a grande formação rochosa. Seis rapazes entre catorze e quinze e seis moças de onze a doze anos tinham as mãos amarradas e caminhavam corajosamente na frente do povo. Seus coraçõezinhos batiam. Não haviam morrido do terremoto, porém sucumbiriam em sacrifício.
.............Para grande espanto de toda tribo o grande Deus não existia mais: o terremoto havia desmoronado a grande imagem. “NÃO HAVIA PEDRA SOBRE PEDRA.” O GRANDE DEUS HAVIA MORRIDO! Os rapazes e as moças foram soltos.
............Daquele dia em diante não haveria mais sacrifícios. Com tanta mão de obra jovem, alguns pastoreavam os animais mais dóceis e outros passaram a cultivar as sementes das fruteiras mais saborosas. Foram dezenas de milênios de prosperidade!...
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Moral da história: A humanidade não vai acabar e muito menos destruir o mundo. Na realidade é o sistema burguês que está agonizando. Acredito em um futuro próspero em que todos viverão com dignidade.

O ASSASSINATO DE UM GRANDE RIO



Debruço-me sobre a amurada do rio e oro, e choro.
Nossa Senhora, padroeira! O que eu fiz não faz jus a remissão!
Não ouso um pedido de perdão, pois não mereço.
Violentar a Mãe de Jesus seria pecado menor!...

Nossa Senhora, mãe de Jesus. Aquela de Aparecida.
Deu-nos o peixe. O milagre da multiplicação dos peixes...
Algo que aprendeu com o filho, provavelmente.
E o Paraíba se povoou de peixes, grandes e pequenos.

Posso atravessar o rio, como o filho de Maria o fez.
Porém caminho sobre areia, como em um deserto.
O Paraíba agoniza. Hiberna como rio temporário.
Qual seu homônimo que batizou terras nordestinas.

Como pedir piedade? Eu não posso, não mereço!
Nossa Senhora matou minha fome, milagrosamente.
Acabei com os peixes que ela me deu, envenenando-os.
Agora matei o próprio rio. Não posso ser perdoado!