terça-feira, 30 de setembro de 2008

CARTA DO CANDIDATO PRÉ DERROTADO

Cucumbunda do Oeste, 30 de setembro de 2008.

Caros Eleitores

Em meados da década de oitenta dizia-se que um país é realmente democrático se houvesse eleições livres para todos os níveis. Sob esta pedra desfraldaram-se as bandeiras das “Diretas Já”.
Sou vereador em uma cidade de porte médio. Até oito anos atrás não me metia em política, quando fui convidado para ser presidente da Associação de Moradores no populoso bairro de classe média onde sempre morei. Na qualidade de aposentado, sendo um homem sempre dinâmico, saí à luta junto às entidades municipais, federais e estaduais e até mesmo privada em busca de melhoria para meu bairro, e, por tabela, trouxe muita coisa para outras comunidades, muitas delas bastante carentes. Hoje as ruas do bairro onde moro são todas asfaltadas, farta iluminação pública, guarda municipal dia e noite, praticamente acabando com os assaltos tão comuns em outras redondezas. Garis limpam as ruas todas as manhãs.
Um ano antes das eleições municipais de dois mil e quatro o prefeito me chamou pedindo que eu preenchesse a ficha de filiação de um novo partido cujo diretório estaria se instalando na cidade. “É só para preencher uma quota mínima de filiados para registros junto aos TRE”. Meses depois meu nome saiu como candidato, sem mesmo eu ser consultado. Eu não sou idiota: a minha candidatura não era para me eleger e sim encher de votos, já que sou muito popular, a coligação e colocar lá dentro as figurinhas carimbadas.
Enquanto estes candidatos faziam campanhas milionárias, com dezenas de carro de som, faixas e etc., eu só possuía uns santinhos doados pelo Prefeito, que tentava a reeleição.
Recebi, uma noite, um telefonema do proprietário de uma companhia de ônibus que atuava no município me chamando para uma reunião em seu escritório.
Saí da reunião com cem mil reais na minha conta bancária, legalmente registrada junto ao TRE, e váriaS dicas de empresários que poderiam me ajudar na campanha. Durante a conversa, o proprietário me fez várias reivindicações, algumas delas passando rasteira na Empresa concorrente. Cada reivindicação começava sempre do mesmo jeito: “preste muita atenção no que vou dizer!” e terminava: “guarde bem isto!”
Fiquei como primeiro suplente, porém imediatamente tomei uma cadeira na câmara, pois um dos meus correligionários assumiu uma secretaria.
Fiz centenas de projetos, mas apenas aprovei três. Porém cinqüenta e dois projetos de outros vereadores com um nome de um tal “projeto substitutivo”, no fundo eram plágios dos meus projetos.
Gostei deste negócio de ser político: no início deste ano fui procurar os mesmos empresários que me ajudaram na campanha passada e recebi uma banana de cada um deles: Havia me preocupado tanto com a população que esqueci as reivindicações deles. Que aliás, se fosse mesmo implementado, pelos meus cálculos seriam necessários o triplo do orçamento municipal. Ou seja nada para educação, nada para saúde, nada para obras públicas!
Aquelas “Figurinhas Carimbadas”, que me referi no início, e que sempre são eleitos, estão na verdade à serviço daqueles que LEGALMENTE custearam suas campanhas e não do povo que o elegeu.
Conclusão: NA FORMA DA LEI, O PROCESSO ELEITORAL BRASILEIRO, NÃO NOS FAZ UM PAÍS DEMOCRÁTICO!
Vereador Caio Pinto
Brochado