segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

CARTA AO FILHO 2


Campos dos Goytacazes, 26 de fevereiro de 2007.

Caro Filho,

Para que as coisas fiquem bem claras para você, eu pretendo recordar algumas situações que passei ou pude observar em minha juventude. Desta forma você poderá avaliar até que ponto eu compreendo você. Por isso as vezes vou falar de mim.
Como já disse na semana passada você se encontra com a auto-estima muito baixa, de modo que qualquer crítica é como se alguém pisasse na sua cabeça. Eu, na década de oitenta, estive desempregado, e era assim que me sentia. Só que cada pessoa reage de um jeito. As causas de sua baixa auto-estima é muito mais complexa, é verdade. Quando somos jovens, sonhamos muito. Esta é uma característica muito importante nos jovens: quando perdemos a capacidade de sonhar é porque já está na hora de morrer. Porém as frustrações aparecem quando descobrimos que nossos sonhos, quando não são impossíveis, só se tornam viáveis após muita ralação. Muito mais transpiração do que imaginamos. Só conseguimos realizar nossos sonhos com muita transpiração e, principalmente determinação.
As pessoas para ficar com o corpo definido malham por prazer. Quando se pratica esporte sua-se muito, e isto nos dá prazer. Porque não suar pelos nossos sonhos? Eu já devo ter falado isto contigo: as pessoas fazem muita chacota com o trabalho. Mas tudo que consumimos é fruto do trabalho de alguém. Se ninguém trabalhasse morreríamos de fome, de frio, de doenças e seriamos uma espécie extinta. Ainda na pré história o Homem sobreviveu graças a confecção de clavas, machadinhas, flechas, coleta de frutos e raízes, curtume do couro para agasalha-lo. Sem o trabalho o ser humano estaria extinto deste sua origem há duzentos mil anos atrás. O trabalho é uma necessidade primária do homem como comer, cagar, mijar, foder, dormir e etc. Quando falo em trabalho, não estou lhe mandando trabalhar para ganhar dinheiro. Falo do trabalho como uma ação coincidente sobre o ambiente, para nosso proveito: Estudar é um investimento no futuro. Plantar uma árvore poderá lhe render sombra e fruto. Trabalhar é executar uma tarefa com um objetivo pré-determinado (consciente) para obter alguma coisa de bom no futuro. As pessoas fazem chacota com o trabalho pelo trabalho escravo, pela exploração. Mas você não tem condições de explorar alguém e viver tranqüilo, porque no capitalismo só se consegue explorar as pessoas se você for dono dos meios de produção ou seja, ter um capital. (Eu estudei economia na universidade). Neste caso você tem que trabalhar, acumular seu próprio capital, e depois viver a vida como você puder.
Se eu fosse lhe aconselhar alguma coisa, eu lhe diria o seguinte: Durante uma semana inteira (pode ser dois dias, um mês, um ano) você se prepara para uma mudança profunda de paradigma. Traduzindo você vai preparar um plano para fazer uma revolução: “tomar de assalto as rédeas de sua própria vida!” Na realidade ninguém conseguiu até hoje tomar as rédeas totalmente da própria vida, mas em parte é possível. Primeiro você vai passar vários dias sonhando, quer dizer, planejando seu futuro: Quem você quer ser quando você tiver trinta anos. Pode delirar a vontade! Este é seu programa máximo! Depois baixe a bola um pouquinho e pense no que você quer ser daqui a cinco anos. Desta vez seja mais realista: imagine algumas coisas bem possíveis de realizar. Este é seu programa mínimo. Depois faça um plano de metas, ano a ano até atingir os cinco anos. Você poderá fazer isto por escrito ou guardar em sua cabeça, o importante é não se esquecer.
Os preparativos já acabou. Agora é a revolução! Lembre-se: toda revolução é uma violência: o mundo vai reagir contra você. Como você ainda não tem as rédeas de sua vida, você anda está fraco: use o máximo a diplomacia. Outra coisa: é importante perceber que os “inimigos” estão aí para lhe destruir, portanto não faz sentido “culpa-los” pelos seus fracassos. Isto para eles é um elogio. A responsabilidade pelos seus fracassos está dentro de você mesmo!
Sua principais armas devem ser a determinação e a inteligência. Se o seu objetivo é tomar uma cidadela, nem que você tenha que desviar seu caminho, recuar temporariamente, mas ela tem que ser atingida e tomada. Nem que para isso se tenha que comer merda. Não se esqueça: Se você quer uma coisa tem que brigar por ela. Porém sempre de forma inteligente: não adianta gritar, bater, dar pontapés. É mais fácil obter as coisas na maciota, na base da amizade. Para cada inimigo que você arranjar, faça sete amigos. Se puder traga o inimigo para o seu lado também. Ou faça um pacto de não agressão. Seja lá como for: determinação, determinação, determinação. Vai ser foda! Se você não tiver determinação não se vence esta parada!
Inteligência é importante para sempre se avaliar sua situação. As vezes a cidadela é difícil de tomar, mas há outro alvo equivalente, que pode ser tomado com mais facilidade. É necessário, freqüentemente, replanejar. É um ciclo sem fim: Replanejar, agir, avaliar os resultados das ações e replanejar de novo.
Sei que este tipo de conselho raramente funciona, senão os livros de auto-ajuda teriam melhorado a vida de todo o planeta e não apenas o bolso de quem os escrevem. Respondendo a uma mal-criação sua: Procure cativar valores humanos. O cavalo tem um caralho maior que o seu e o galo fode muito mais, no entanto você é muito melhor do que eles. Pode ter certeza!

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

MINHAS DÍVIDAS

....................Diz a tradição que na vida devemos plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Já fiz tudo isto, mas tenho a impressão que estou devendo muito. Para compensar a emissão de CO2 cada um de nós teríamos que plantar oito árvores por ano (li em algum lugar). Eu, pessoalmente, já semeei centenas de árvores, e, talvez, sob minha orientação, outras milhares tenham sido plantadas. Sou agrônomo. Trabalho no “ramo” de fruticultura faz mais de uma década. Tive um filho e criei mais um: nesta época em que a população mundial já beira os sete bi, não é aconselhável ter muitos filhos. Escrevi um livro de poesias e publiquei alguns artigos em revistas especializadas.
....................Acontece que a vida me deu muitas coisas além de roupa, comida, água, abrigo, sexo e outras coisas essenciais. A vida tem me dado conhecimento: tive a oportunidade de estudar, de ler muitos livros, conversar com pessoas cultas. Pegando um pouquinho de conhecimento aqui, mais um pouco ali, aprendi muito nestes meus cinqüenta e cinco anos. Eu ainda estou em déficit com a vida porque ainda não tive oportunidade de aplicar estes conhecimentos ou repassa-los para outras pessoas. Não porque eu não queira, mas porque o excesso de conhecimento para o capitalismo é como o dinheiro, inflaciona e provoca crise no próprio sistema. Se utilizarmos todo o conhecimento humano existente hoje, no mundo, em benefício da sociedade, teríamos, provavelmente abundância. O que abunda não é vendável! Doenças como AIDS, a fome na África, as guerras no Oriente Médio, tudo é vendável. Abundância, não! Isto explica porque muitos cientistas são pagos para pesquisar coisas sem sentidos, e obterem informações que nada soma ao conhecimento (leia o quadro “Ciência Maluca” da Revista “Superinteressante” da Ed. Abril), ou até não fazer absolutamente nada. O conhecimento técnico-científico tem que andar a reboque do desenvolvimento do capitalismo para na causar “inflação de conhecimento”. Apesar da Internet, dos Organismos Geneticamente Modificados, dos celulares com mil e uma utilidades, e de tantas novidades que aparecem dia após dia neste milênio que acaba de nascer, o capitalismo não vem contribuindo para o aumento do conhecimento no mundo, pelo contrário, o capitalismo precisa da manutenção da ignorância pra poder continuar existindo.
....................Espero que eu tenha oportunidade de pagar esta minha dívida com a sociedade até o final de minha vida.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

A ADOLESCÊNCIA DA HUIMANIDADE

Tem-se falado muito noJoãozinho. Eu não vou comentar. A coisa não é só por aqui. É em todo lugar. Às vezes até institucional, como o caso das crianças israelenses que que escreviam mensagens nos mísseis que vieram a matar centenas de crianças no Líbano. Mas eu acredito na humanidade. A espécie humana há duzentos mil anos "engatinhava" pelas savanas, fugindo das feras e das epidemias, eramos uma nova espécie: Homo sapiens, e como espécie, ainda bebê. Frágil, lutando, geração após geração contra a extinção. Ainda na primeira infância, aprendemos a falar, nos vestirmos, corrermos dos predadores. Como uma criança travessa rabiscávamos as paredes com os mais variados desenhos, fruto de nossa imaginação infantil. Um dia nos alfabetizamos (ao contrário do que dizem, não começa aí a hitória!) e, com muita dificuldade preenchemos nossos cadernos com nossas idéias e nossos medos. Chegamos à puberdade, época de timidez e inibição, época onde o super-ego nos impôs o mais profundo obscurantismo. Aos poucos chegamos à adolescêcia, fomos quebrando tabus, contestando tudo que acreditavamos. Chegamos aos dias de hoje. Nos achamos os reis do mundo, megalomaníacos. Destruimos tudo pela frente, como vândalos. A humanidade está na adolescência: só quer saber de orgias e badalação, como se o mundo fosse acabar no dia seguinte. Mas um dia seremos adultos. Criaremos juízo. Construiremos um mundo melhor para os homens, para os bichos, as plantas e para todo o planeta. Aí é que que deixaremos a pré-história e começaremos a verdadeira historia da humanidade.