sexta-feira, 27 de abril de 2012

A MORTE DO ZÉ DA LATA


Etelvino entrou no bar do João branco como se tivesse visto um fantasma.
            - O Zé da Lata morreu!...
            Aplausos!... Muitos aplausos e gritarias! Até que um cético perguntou.
            - Como é que você sabe?
            - Olhei pela janela da casa dele. Estava estendido no chão com a língua de fora.
            - Pode não estar morto. Vamos lá conferir.
            O João, também interessado, fechou a porta do bar, e todos foram até a casa do Zé. Olharam pela janela e lá estava o homem espichado. Bateram e depois arrombaram a porta. O cara parecia bem morto! Estava até inchado!... Manequinho, um negrinho de doze anos, saiu pelas ruas gritando:
            - Zé da Lata morreu!... Zé da lata morreu!...
            Em pouco tempo o quintal do Falecido estava cheio de gente: seu Manuel do açougue trouxe uma peça inteira de alcatra, dona Maricota matou meia dúzia de galinhas, o próprio João do bar trouxe um barril de chopp. Improvisaram um grupo de pagode. O povo comia, bebia e cantava.
            - “Morreu, morreu!... Antes ele do que eu”...
            Foi quando Etelvino lembrou.
            - Onde será que ele guarda a papelada?
            Formou-se um silêncio geral. Um frio invadiu a barriga de Zacarias, que correu para o banheiro.
            - Será que ele tem um cofre no banco? Ponderou Jeremias.
            Oito pessoas foram escolhidas para dar uma busca na casa. Em meia hora voltaram com quatro gavetas.
            - Está tudo aqui! Garantiu Etelvino. Estavam nestas gavetas, debaixo da cama do falecido.
            Fizeram uma enorme fogueira e passaram a cantar músicas de São João. Pelo menos uns vinte litros vazios de cachaça se espalhavam pelo quintal junto às arvores ou no meio do jardim. Depois de umas cinco horas parou um carro de luxo e saltou uma mulher.
            - Que festa é essa na casa de papai? Fora daqui!...
            Coube ao dono do bar, João, com a voz pastosa, se segurando para não cair devido ao alto estado de embriaguês, dar a triste notícia:
            - Seu pai faleceu. Ele era muito popular entre nós!
            Esta história consta nos anais da polícia: De como a comunidade reagiu à morte de Zé da Lata, um homem que ajudou muito a comunidade emprestando dinheiro a todos que necessitavam. Zé da Lata era muito paciente: desde que tivesse garantias, refinanciava quantas vezes fossem necessárias as dívidas. Porém era implacável com os maus pagadores. Se não pagasse "na lata", perderia os bens!

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