Etelvino entrou no bar do João
branco como se tivesse visto um fantasma.
- O Zé da
Lata morreu!...
Aplausos!...
Muitos aplausos e gritarias! Até que um cético perguntou.
- Como é
que você sabe?
- Olhei
pela janela da casa dele. Estava estendido no chão com a língua de fora.
- Pode não
estar morto. Vamos lá conferir.
O João,
também interessado, fechou a porta do bar, e todos foram até a casa do Zé.
Olharam pela janela e lá estava o homem espichado. Bateram e depois arrombaram
a porta. O cara parecia bem morto! Estava até inchado!... Manequinho, um
negrinho de doze anos, saiu pelas ruas gritando:
- Zé da
Lata morreu!... Zé da lata morreu!...
Em pouco
tempo o quintal do Falecido estava cheio de gente: seu Manuel do açougue trouxe
uma peça inteira de alcatra, dona Maricota matou meia dúzia de galinhas, o
próprio João do bar trouxe um barril de chopp. Improvisaram um grupo de pagode.
O povo comia, bebia e cantava.
- “Morreu,
morreu!... Antes ele do que eu”...
Foi quando
Etelvino lembrou.
- Onde será
que ele guarda a papelada?
Formou-se
um silêncio geral. Um frio invadiu a barriga de Zacarias, que correu para o
banheiro.
- Será que
ele tem um cofre no banco? Ponderou Jeremias.
Oito pessoas
foram escolhidas para dar uma busca na casa. Em meia hora voltaram com quatro
gavetas.
- Está tudo
aqui! Garantiu Etelvino. Estavam nestas gavetas, debaixo da cama do falecido.
Fizeram
uma enorme fogueira e passaram a cantar músicas de São João. Pelo menos uns
vinte litros vazios de cachaça se espalhavam pelo quintal junto às arvores ou
no meio do jardim. Depois de umas cinco horas parou um carro de luxo e saltou
uma mulher.
-
Que festa é essa na casa de papai? Fora daqui!...
Coube
ao dono do bar, João, com a voz pastosa, se segurando para não cair devido ao
alto estado de embriaguês, dar a triste notícia:
-
Seu pai faleceu. Ele era muito popular entre nós!
Esta
história consta nos anais da polícia: De como a comunidade reagiu à morte de Zé
da Lata, um homem que ajudou muito a comunidade emprestando dinheiro a todos
que necessitavam. Zé da Lata era muito paciente: desde que tivesse garantias,
refinanciava quantas vezes fossem necessárias as dívidas. Porém era implacável
com os maus pagadores. Se não pagasse "na lata", perderia os bens!
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